A Astronomia, uma das ciências mais antigas, tem raízes profundas na Babilônia, uma civilização da Mesopotâmia, localizada na região do atual Iraque, entre os rios Tigre e Eufrates, que brilhou por sua organização e avanços no conhecimento. Para os babilônios, o céu era mais do que um pano de fundo para os dias e noites; era um livro divino, cujas "palavras" — as estrelas e planetas — guiavam suas decisões. As práticas astronômicas babilônicas não apenas moldaram o conhecimento de sua época, mas também influenciaram profundamente outras culturas e desempenharam um papel muito importante no progresso tecnológico da humanidade. [1]

Os Primórdios da Astronomia Babilônica
O Céu como Código Divino
Os babilônios acreditavam que os deuses enviavam mensagens por meio de fenômenos celestes. Essa visão religiosa motivava os sacerdotes-astrônomos a observar sistematicamente o céu. Localizados nos altos zigurates, grandes templos em formato de pirâmide escalonada, eles monitoravam estrelas, planetas e eclipses, registrando cada evento em tábuas de argila. [2]
Contribuições Científicas
- Catálogos Estelares e o Zodíaco:
- Foram os primeiros a dividir o céu em constelações e criar o zodíaco, que influenciaria tanto a astronomia quanto a astrologia.
- Tabelas e Previsões:
- Desenvolveram tabelas para prever eclipses e movimentos planetários, com uma precisão impressionante para a época.
- Sistema Sexagesimal:
- Usaram um sistema matemático de base 60, que ainda hoje é a base da medição de ângulos e tempo.

Catálogos Estelares e o Zodíaco
Os babilônios foram pioneiros na catalogação do céu noturno, criando uma base astronômica que seria adotada por várias civilizações posteriores. [3]
- Primeiras Constelações:
- Eles identificaram e nomearam várias constelações, algumas das quais permanecem em uso até hoje.
- O céu era dividido em três faixas principais associadas a deuses: Ea, Anu e Enlil, que abrangiam as estrelas visíveis em diferentes partes do horizonte.
- Criação do Zodíaco:
- Dividiram o zodíaco em 12 partes iguais, cada uma correspondente a aproximadamente 30 graus de movimento do Sol ao longo do ano.
- Os signos do zodíaco surgiram como uma forma de mapear o céu e prever eventos astronômicos e astrológicos.
Impacto:
- Esse sistema influenciou tanto a astrologia quanto a astronomia. Por exemplo, o uso dos signos do zodíaco foi incorporado por gregos e romanos, e ainda é uma referência cultural e astrológica na atualidade.
Tabelas e Previsões
Os babilônios desenvolveram tabelas astronômicas que lhes permitiam prever fenômenos celestes com precisão, um feito impressionante para a época. [4][2]
- Tabelas de Eclipses:
- Utilizavam ciclos como o ciclo Saros (18 anos e 11 dias) para prever eclipses solares e lunares.
- Movimentos Planetários:
- Criaram tabelas detalhadas que descreviam o movimento de planetas como Vênus, Marte e Júpiter. Por exemplo:
- O texto de Vênus de Ammisaduqa, que registra as aparições e desaparecimentos de Vênus, é uma das evidências mais antigas de tabelas planetárias sistemáticas.
- Criaram tabelas detalhadas que descreviam o movimento de planetas como Vênus, Marte e Júpiter. Por exemplo:
- Registro Histórico:
- Esses registros sistemáticos permitiram que futuros astrônomos identificassem padrões e aplicassem cálculos matemáticos para prever eventos astronômicos.
Impacto:
- As tabelas babilônicas foram uma das primeiras aplicações de dados históricos para prever eventos futuros, estabelecendo um modelo que ainda é usado na astronomia moderna.
Sistema Sexagesimal
Os babilônios usavam um sistema numérico de base 60, conhecido como sistema sexagesimal, para cálculos astronômicos e matemáticos. [5]
- Por que Base 60?:
- A base 60 permite uma alta divisibilidade, sendo divisível por 1, 2, 3, 4, 5 e 6, tornando-a prática para dividir o tempo e ângulos.
- Aplicações:
- Eles mediam o tempo em horas, minutos e segundos, um sistema que sobrevive até hoje.
- O círculo foi dividido em 360 graus, derivado diretamente do sistema babilônico.
- Cálculos Avançados:
- Utilizaram o sistema para calcular movimentos planetários, eclipses e ciclos lunares.
Impacto:
- O sistema sexagesimal é uma das contribuições mais duradouras da astronomia babilônica, sendo fundamental para a navegação, geometria e astronomia moderna.
A Influência na Ciência Global
A astronomia babilônica não ficou confinada à Mesopotâmia. Ela moldou o pensamento de outras civilizações que, por sua vez, expandiram esse conhecimento. [6]
A Influência Grega
Os gregos herdaram muitos conceitos babilônicos:
- Tabelas Astronômicas: Foram usadas por Hiparco e Ptolomeu para avançar na modelagem dos céus.
- Zodíaco: Os gregos adotaram o sistema babilônico de 12 signos, integrando-o à sua astrologia.
O Mundo Islâmico
Na Idade Média, os textos babilônicos foram traduzidos para o árabe e combinados com o pensamento grego. Os astrônomos islâmicos refinaram as tabelas babilônicas, preservando e ampliando seu legado. [7]
Impacto na Astronomia Moderna
Os registros babilônicos de eclipses e movimentos planetários são usados até hoje para validar modelos astronômicos e estudar mudanças na rotação da Terra. Seu método de observação sistemática lançou as bases do método científico.

Por Que a Astronomia Foi Importante no Progresso Tecnológico da Humanidade?
A astronomia, iniciada na Babilônia, não apenas ampliou nosso entendimento do cosmos, mas também impulsionou avanços tecnológicos e sociais significativos:
1. Calendários e Agricultura
Os babilônios usavam o céu para criar calendários que orientavam a agricultura. Esse conhecimento se espalhou, permitindo que outras civilizações otimizassem suas colheitas.
2. Navegação e Comércio
O estudo do céu foi essencial para a navegação. As constelações, inicialmente catalogadas pelos babilônios, ajudaram os povos a traçar rotas marítimas, facilitando o comércio e a exploração.
3. Base para a Matemática e a Física
A precisão dos cálculos babilônicos influenciou o desenvolvimento da matemática e, posteriormente, da física. Sem suas tabelas astronômicas, avanços como a teoria da gravitação de Newton seriam mais difíceis de alcançar.
4. Inspiração para Outras Ciências
A astronomia mostrou que a observação metódica pode desvendar leis universais. Esse princípio inspirou campos como a biologia, química e geologia a adotar práticas científicas rigorosas.
5. Desenvolvimento de Instrumentos
O desejo de entender o céu levou à invenção de instrumentos como o astrolábio e o sextante, que tiveram impactos duradouros na tecnologia.
A astronomia babilônica foi mais do que um marco inicial na jornada para entender o cosmos. Ela foi uma ponte entre o pensamento religioso e o científico, moldando a forma como interpretamos o mundo e inspirando o progresso humano. Sua influência transcendeu fronteiras e épocas, deixando um legado que ainda ressoa nos avanços tecnológicos modernos.
Ao observarmos as estrelas hoje, lembramos que nossos primeiros passos para compreender o universo começaram com os sacerdotes-astrônomos da Babilônia, que, de seus zigurates, ousaram decifrar o céu.
Referências
- 1. MARTINS, Milene Rodrigues; BUFFON, Alessandra Daniela; NEVES, Marcos Cesar Danhoni. A Astronomia na Antiguidade: Um Olhar sobre as Contribuições Chinesas, Mesopotâmicas, Egípcias e Gregas. Revista Valore, v. 4, n. 1, p. 810-823, 2019.
- 2. OSSENDRIJVER, Mathieu. Ancient Babylonian Astronomers Calculated Jupiter’s Position from the Area under a Time-Velocity Graph. Science, v. 351, n. 6272, p. 482-484, 2016.
- 3. HUNGER, Hermann; PINGREE, David. MUL.APIN: An Astronomical Compendium in Cuneiform. Archiv für Orientforschung, Beiheft 24. Horn: Ferdinand Berger & Söhne Gesellschaft M.B.H., 1989.
- 4. ROCHBERG, Francesca. The Heavenly Writing: Divination, Horoscopy, and Astronomy in Mesopotamian Culture. Cambridge University Press, 2004.
- 5. PARKER, Richard A. Babylonian Mathematical Astronomy: Procedure Texts. Providence, Rhode Island: Brown University Press, 1955.
- 6. BROWN, David. Mesopotamian Planetary Astronomy-Astrology. Styx Publications, 2000.
- 7. ALIBA, George. Islamic Science and the Making of the European Renaissance. MIT Press, 2007.