Você já se perguntou se estamos sozinhos no universo? Essa questão, que há séculos intriga a humanidade, pode estar mais próxima de uma resposta do que imaginamos. Em meio à vastidão do cosmos, um planeta chamado K2-18b tem provocado suspiros de espanto e esperança na comunidade científica. Localizado a 120 anos-luz da Terra, na constelação de Leão, este gigante azulado acaba de nos enviar o que pode ser um dos sinais mais promissores de vida extraterrestre já detectados.
Graças ao poderoso telescópio espacial James Webb, cientistas conseguiram identificar na atmosfera deste mundo distante algo extraordinário: a presença de gases que, aqui na Terra, são produzidos principalmente por organismos vivos. É como se o planeta estivesse sussurrando para nós: "Ei, talvez eu não esteja tão vazio quanto vocês pensam!"

Créditos: NASA / ESA / CSA
Mas calma! Antes de imaginarmos civilizações alienígenas ou criaturas fantásticas, precisamos entender o que essa descoberta realmente significa. O que torna o K2-18b tão especial? Como os cientistas conseguem "enxergar" a composição atmosférica de um planeta tão distante? E por que, apesar do entusiasmo, ainda não podemos afirmar com certeza que encontramos vida?
Embarque conosco nesta jornada fascinante pelo cosmos, onde a ciência se mistura com o mistério e cada descoberta nos aproxima um pouco mais de responder uma das maiores perguntas da humanidade: afinal, estamos mesmo sozinhos?

O planeta misterioso que chamou a atenção dos cientistas
Imagine um mundo 8,6 vezes mais massivo que a Terra, com um diâmetro 2,6 vezes maior que o nosso planeta. Agora, coloque esse gigante orbitando uma estrela anã vermelha, menor e menos luminosa que o nosso Sol, a uma distância perfeita para que a água possa existir em estado líquido. Este é o K2-18b, um exoplaneta que não se parece com nada que temos em nosso sistema solar.
Descoberto em 2015 pela missão K2 da NASA, este mundo intrigante pertence a uma categoria de planetas chamados "sub-Netunos" - maiores que a Terra, mas menores que Netuno. O que torna o K2-18b particularmente fascinante é que ele orbita na chamada "zona habitável" de sua estrela, aquela região onde a temperatura não é nem muito quente nem muito fria, permitindo que a água exista em estado líquido na superfície.
Mas o que realmente fez os cientistas arregalarem os olhos foi quando, em setembro de 2023, o telescópio espacial James Webb apontou seus instrumentos ultrassensíveis para este mundo distante. Pela primeira vez, foram detectadas moléculas baseadas em carbono na atmosfera de um exoplaneta na zona habitável! Isso já seria empolgante por si só, mas o melhor ainda estava por vir.
Os dados coletados pelo Webb sugeriram algo ainda mais extraordinário: o K2-18b poderia ser o que os astrônomos chamam de planeta "Hycean" - um tipo de mundo coberto por um vasto oceano de água líquida, com uma atmosfera rica em hidrogênio pairando sobre ele. É como se tivéssemos encontrado um primo distante e gigante dos oceanos da Terra!

Imagem gerada por inteligência artificial com base em dados astronômicos.
Diferente dos planetas rochosos como a Terra ou dos gigantes gasosos como Júpiter, esses mundos oceânicos representam um ambiente completamente novo para a busca por vida. E o mais incrível? Eles podem ser os ambientes mais promissores para encontrarmos nossos primeiros sinais de vida além do Sistema Solar.
A descoberta que agitou a comunidade científica
Foi em abril de 2025 que a notícia explodiu nos meios científicos: o telescópio James Webb havia detectado algo extraordinário na atmosfera do K2-18b. Não era apenas a presença de metano e dióxido de carbono, que já haviam sido identificados anteriormente. Desta vez, os cientistas encontraram evidências de um composto muito especial: o dimetilsulfeto, ou DMS.
Mas o que tem de tão especial nesse tal de DMS? Aqui na Terra, esse gás tem uma característica muito peculiar: ele só é produzido por seres vivos! Mais especificamente, o DMS é liberado principalmente pelo fitoplâncton marinho - aquelas minúsculas algas que flutuam nos oceanos e são responsáveis por grande parte do oxigênio que respiramos.
Imagine a cena: cientistas analisando dados de um planeta a 120 anos-luz de distância e, de repente, encontram a assinatura química de um gás que, até onde sabemos, só existe quando há vida. É como encontrar pegadas em uma praia deserta - alguém (ou algo) deve tê-las deixado ali!
Além do DMS, os pesquisadores também detectaram dissulfeto de dimetila (DMDS), outro composto que na Terra é produzido por processos biológicos. E o mais impressionante: a quantidade desses gases na atmosfera do K2-18b é milhares de vezes maior do que encontramos aqui na Terra.
"Este é o indício mais forte até agora de possível vida fora do Sistema Solar", declarou o professor Nikku Madhusudhan, astrofísico da Universidade de Cambridge e líder da pesquisa. Segundo ele, a combinação desses gases, junto com a ausência de amônia, reforça a hipótese de que o K2-18b possui um vasto oceano de água sob uma atmosfera rica em hidrogênio.
É como se tivéssemos um oceano alienígena borbulhando de vida microbiana, produzindo gases em quantidades tão grandes que podemos detectá-los mesmo a uma distância tão absurda! Mas como os cientistas conseguem "ver" esses gases em um planeta tão distante? A resposta está em uma técnica fascinante que é quase como ler a "impressão digital" da atmosfera de outros mundos.
Como os cientistas conseguem "ver" gases em um planeta tão distante?
Se você já se perguntou como é possível analisar a composição atmosférica de um planeta que está a 120 anos-luz de distância, prepare-se para conhecer um dos truques mais engenhosos da astronomia moderna: a espectroscopia de transmissão.
Imagine que você está observando uma lanterna através de um copo com água colorida. A luz que chega aos seus olhos não é exatamente igual à luz original da lanterna, certo? Ela foi alterada ao passar pela água. É exatamente esse princípio que os astrônomos usam para estudar atmosferas planetárias distantes.
Quando K2-18b passa na frente de sua estrela (um evento chamado de "trânsito"), uma pequena fração da luz estelar atravessa a atmosfera do planeta antes de chegar até nós. Cada molécula presente nessa atmosfera "rouba" uma parte específica dessa luz, como se deixasse sua impressão digital no espectro luminoso.
É como se cada gás tivesse seu próprio código de barras único! O metano absorve luz em comprimentos de onda diferentes do dióxido de carbono, que por sua vez é diferente do dimetilsulfeto. O telescópio James Webb, com seus instrumentos ultrassensíveis, consegue captar essas sutis diferenças e criar um "mapa químico" da atmosfera do planeta.

Créditos: ESA / ATG medialab – Ver original. Licença: CC BY-SA 3.0 IGO.
"O método de trânsito nos permite estudar planetas que jamais conseguiríamos ver diretamente", explica o professor Madhusudhan. "É como deduzir a receita de um bolo apenas pelo cheiro, sem nunca vê-lo ou prová-lo."
O que torna o James Webb tão especial para essa tarefa é sua capacidade de observar na faixa do infravermelho, onde muitas moléculas importantes têm suas "assinaturas" mais fortes. Além disso, sua sensibilidade é tão extraordinária que, com apenas duas observações de trânsito, ele conseguiu detectar sinais que o telescópio Hubble não conseguiria identificar mesmo após oito observações ao longo de anos!
É como se tivéssemos trocado uma lupa por um microscópio de última geração. De repente, detalhes que eram completamente invisíveis se tornaram claros como o dia. E o mais incrível? Estamos apenas começando a explorar o potencial deste incrível observatório espacial.
Por que ainda não podemos comemorar a descoberta de ETs
Antes de sairmos por aí anunciando que encontramos vida alienígena, precisamos colocar os pés no chão (ou melhor, no nosso planeta). Apesar do entusiasmo dos cientistas, o que temos até agora são indícios promissores, não uma prova definitiva de vida extraterrestre.
Os pesquisadores chamam esses sinais de "bioassinaturas" - impressões químicas que sugerem a presença de vida. É como encontrar fumaça: ela indica fortemente a existência de fogo, mas não é o fogo em si. No caso do K2-18b, a fumaça é bastante convincente, mas ainda precisamos confirmar se há mesmo uma fogueira alienígena por lá!
O nível de confiança estatística da descoberta é de 99,7%. Parece muito, não é? Mas no mundo da ciência, especialmente quando estamos falando de algo tão extraordinário quanto vida extraterrestre, os cientistas buscam uma certeza ainda maior - algo como 99,99999%, o que eles chamam de "cinco sigma". É como dizer: "Queremos ter apenas uma chance em um milhão de estarmos enganados."
"Primeiro, precisamos repetir as observações duas ou três vezes para garantir que o sinal é real", explica o professor Madhusudhan. Além disso, os cientistas estão investigando se existem processos não-biológicos que poderiam produzir DMS ou DMDS em uma atmosfera como a do K2-18b.
Em novembro de 2024, por exemplo, outro grupo de pesquisadores encontrou evidências da presença de DMS em um cometa, sugerindo que esse composto poderia ser produzido sem a necessidade de vida. Embora essa explicação pareça menos provável para as quantidades enormes detectadas no K2-18b, a ciência exige que todas as possibilidades sejam consideradas.
Há também um intenso debate sobre a própria natureza do planeta. Enquanto alguns cientistas acreditam que o K2-18b possui um vasto oceano líquido, outros sugerem que poderia ser um oceano de rocha derretida, ou até mesmo um mini gigante gasoso sem superfície sólida. Cada uma dessas interpretações tem implicações diferentes para a possibilidade de vida.
Como diria Carl Sagan, "afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias". E quando se trata de encontrar nossos possíveis vizinhos cósmicos, queremos ter certeza absoluta antes de tocar a campainha!
O que significa estar a 120 anos-luz de distância?
Quando falamos que K2-18b está a 120 anos-luz da Terra, o que isso realmente significa? Para entender essa distância cósmica, precisamos primeiro compreender o que é um ano-luz.
Um ano-luz não é uma medida de tempo, mas sim de distância - é o quanto a luz, viajando a 300.000 quilômetros por segundo (a velocidade mais rápida que existe no universo), percorre em um ano inteiro. Para ter uma ideia, a luz do Sol leva apenas 8 minutos para chegar até nós. Já a luz de K2-18b leva 120 anos!
Para colocar isso em perspectiva, se pudéssemos viajar na velocidade da luz (o que é impossível segundo a física atual), levaríamos 120 anos para chegar lá. Se enviássemos uma mensagem hoje, nossos tataranetos é que receberiam a resposta!

É como se estivéssemos olhando para o passado. A luz que analisamos agora do K2-18b iniciou sua jornada rumo à Terra no início do século XX, quando o Titanic ainda nem havia sido construído. Quando essa luz partiu do planeta, o Brasil ainda era uma república jovem e o primeiro avião acabara de voar!
Essa distância enorme tem implicações importantes para a pesquisa. Por um lado, significa que qualquer forma de comunicação ou viagem está completamente fora de questão com nossa tecnologia atual. Por outro lado, 120 anos-luz é considerado relativamente "próximo" em termos astronômicos - existem bilhões de estrelas em nossa galáxia muito mais distantes que isso.
Na verdade, K2-18b está em nossa "vizinhança cósmica", o que o torna um alvo ideal para estudos detalhados. Se encontrarmos evidências conclusivas de vida neste mundo relativamente próximo, isso sugeriria que a vida pode ser muito mais comum no universo do que pensávamos.
Como disse o professor Madhusudhan: "Se confirmarmos que há vida em K2-18b, isso basicamente confirmaria que a vida é muito comum na galáxia". Uma descoberta que mudaria para sempre nossa compreensão do cosmos e de nosso lugar nele.
O que essa descoberta significa para nós
Quando olhamos para as estrelas, estamos olhando para o maior de todos os mistérios: estamos sozinhos no universo? A descoberta de possíveis sinais de vida no planeta K2-18b nos coloca mais perto do que nunca de responder essa pergunta fundamental.
Se confirmada, essa descoberta não seria apenas mais um avanço científico – seria uma revolução em nossa compreensão do cosmos e de nós mesmos. Imagine o impacto filosófico e cultural de sabermos, com certeza, que não somos os únicos seres vivos neste vasto universo. Como isso mudaria nossa visão de mundo, nossas crenças, nossa compreensão sobre o que significa ser "vida"?
"Nosso objetivo final é a identificação de vida em um planeta habitável, o que transformaria nossa compreensão de nosso lugar no universo", afirmou o professor Madhusudhan. E talvez estejamos a apenas alguns anos de alcançar esse objetivo.

O que torna essa busca ainda mais fascinante é que, até recentemente, os cientistas focavam principalmente em planetas rochosos semelhantes à Terra. Agora, com a descoberta de que mundos oceânicos como K2-18b podem ser ambientes promissores para a vida, as possibilidades se expandem enormemente. Afinal, se a vida pode surgir em ambientes tão diversos aqui na Terra – das fontes hidrotermais no fundo do oceano aos lagos ácidos e desertos escaldantes – por que não poderia florescer em condições diferentes em outros mundos?
O telescópio James Webb e outros instrumentos que virão no futuro continuarão vasculhando o céu em busca de mais bioassinaturas. Cada nova descoberta nos aproxima um pouco mais de responder à pergunta que tem ecoado através das gerações: estamos sozinhos?
Talvez, em um futuro não muito distante, olharemos para as estrelas com a certeza de que, em algum lugar lá fora, outros seres – mesmo que sejam apenas micróbios em um oceano alienígena – também contemplam o mesmo cosmos que nós. E nesse dia, o universo parecerá, ao mesmo tempo, muito maior e muito menor.
Como Carl Sagan uma vez disse: "Em algum lugar, algo incrível está esperando para ser descoberto." E talvez, esse algo incrível seja a vida em K2-18b, nos lembrando que, no fim das contas, talvez sejamos apenas um capítulo na grande história da vida cósmica.
Referências
1. NASA. (2023). Webb Discovers Methane, Carbon Dioxide in Atmosphere of K2-18 b. https://www.nasa.gov/universe/exoplanets/webb-discovers-methane-carbon-dioxide-in-atmosphere-of-k2-18-b/
2. BBC Brasil. (2025). Existe vida fora da Terra? Sinais promissores são achados em planeta. https://www.bbc.com/portuguese/articles/c87pye9edwdo
3. G1/Globo. (2025). Vida fora da Terra? O que se sabe sobre a descoberta no planeta K2-18 b. https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2025/04/17/o-que-se-sabe-sobre-a-descoberta-no-planeta-k2-18-b.ghtml
4. CNN Brasil. (2025). Evidência de vida em outro planeta é encontrada; o que isso quer dizer? https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/evidencia-de-vida-em-outro-planeta-e-encontrada-o-que-isso-quer-dizer/
5. Poder360. (2025). Cientistas detectam sinais de gases em planeta; entenda. https://www.poder360.com.br/poder-internacional/cientistas-detectam-sinais-de-gases-em-planeta-entenda/
6. Astropontos. (2018). Bioassinaturas – o que são e como detectá-las. https://astropontos.org/2018/08/08/bioassinaturas-o-que-sao-e-como-detecta-las/